Topo da Africa. Kilimanjaro

Kilimanjaro, Neve na Africa
 
 

O Kilimanjaro sempre esteve no meu imaginário. Pode ter sido, as diversas fotos que apareceram para mim durante minha vida, dos elefantes pastando nas planícies do Quênia, ou uma casal de girafas comendo suas acácias entres espinhos, com a montanha nevada de fundo, nas fotos. Que baita cenário!!!

Pandora on the road

Kilimanjaro visto no Amboseli National Park
Foto da internet

O fato de uma montanha, com o cume com neve, na África, bem próximo a linha do Equador, sempre me intrigou e me atraia naturalmente. Claro, que eu não sou o único magnetizado por essa beleza natural, única no Planeta.
O Kilimanjaro é diferente de varias outras montanhas que eu já presencie ao redor do mundo, primeiro é um vulcão, que esta inativo por muito tempo, não esta numa cordilheira de montanhas, esta solito no meio do continente Africano, próximo da área de conservação Ngorongoro, e do Parque Nacional do Seregueti. Em vários lugares da Tanzânia e do Quênia pode se deslumbrar com sua beleza natural a distancia, que atrai aventureiros do mundo todo.A palavra Kilimanjaro é oriunda de duas lingas locais: Oldoinyo Oibor, que significa montanha branca em Masai(O povo que antigamente tinha como ritual: um garoto ao sair da puberdade e se transformar em homem, tinha como tarefa, enfrentar um leão com um bastão de madeira, prova de coragem, pequena dos Masai), ou Kilima Njaro, montanha brilhante em kiswahili) A Palavra em Kiswahili ganhou o mundo. Ganhou meu sonho em caminhar em suas neves africanas.
A área do parque nacional, já foi reserva de caça da Alemanha na partilha da África, na conferencia do Berlim (1884 a 1885), que fatiou o continente africano, em grandes colônias, para exploração dos países europeus, diversos historiadores culpam essa partilha que não respeitou etnias, povos, limites naturais pelas sucessivas guerras e instabilidades que o continente enfrentou e enfrenta até os dias atuais.O Kilimanjaro está situado na Tanzânia, mas sua melhor vista esta no Parque Ambroseli, no Quênia, que faz fronteira entre os dois países. As melhores fotos do Kilimanjaro com vida animal são tiradas nesse parque no Quênia. Eu não consegui ir visitá-lo, mas tenha certeza, vale muito a pena. Kili, carinhosamente chamado por todos que se encantam com sua existência tem 5.891,8 metros, é a maior montanha da África. Uma das montanhas dos ‘’Seven summits’’. Apenas em 1973 se tornou parque nacional.Uma pessoa que quer ir subir o Kilimanjaro, ou se encantar com a Cratera Ngorongoro, ou ir atrás dos Big Five, no gigantesco parque do Serengeti ,saindo do Brasil tem algumas opções de rota: Como Chegar no Kilimanjaro?
1- Pegar um vôo até a África do Sul e depois uma conexão para Nairóbi, no Quênia e ir de carro ate Arusha (273 km), uma das duas cidades base para quem explorar a região. Outra cidade base é Moshi. O aeroporto internacional do Kilimanjaro fica na cidade, procure vôos para essa cidade também. Moshi é uma cidade pequena e aconchegante, Arusha, eu não dormi, mas é bem maior e muito mais frenética.
2 – Outra opção pegar um vôo ate a  maior cidade da Tanzânia, Dar es Salaam que fica a 624 km de distancia de Arusha.
3 – Alguns Turistas vêm de Ruanda de carro, saindo de Kigali e passando proximo ao Serengeti antes de chegar ao Kilimanjaro. São 1.078 km de estradas.No meu caso foi um pouco diferente, eu tive que ir a China para fazer compras para minha empresa, Vitoria Bijouterias, e na volta da China, parei em Amsterdã, pois começaria minhas ferias. Encontrei e me diverti muito com amigos especiais, pelos belos canais de Amsterdã, nunca tinha passado tanto frio na vida, pegamos -12 graus, fui obrigado a comprar uma segunda pele (que virou minha mascote em todas as viagens de montanha), passamos uma semana na cidade entre coffee shops, bares, batatas e wafes com Nutella, até  me despedir de todos.
E depois parti para uma das maiores aventuras da minha vida: ”Escalar o Monte Kilimanjaro”.  Da capital da Holanda tem um vôo da KLM, sem escalas direto para Moshi, onde fica o Aeroporto Internacional do Kilimanjaro. Perfeito!!!Sai de um frio desesperador holandês para um calor que te fazia suar o bigode, ao sair do avião. Olhei para o céu extremamente estrelado e agradeci muito por estar ali. Peguei um táxi e fui para o hotel que eu tinha reservado: um casarão antigo bem conservado e minha cama era enorme, e tinha um véu contra mosquitos(tipo aquelas camas de sultão), o quarto era gigante, do tamanho de uma casa no Japão. Estava muito bem instalado e paguei um preço justíssimo. Não consegui ficar no quarto, estava ansioso para conhecer a cidade e sentir o ar africano. O medo de estar num lugar inóspito, quase me paralisou, não o ouvi e fui desbravar Moshi. No caminho a procura de um restaurante, conheci Balaph, um garoto de origem Masai que adorava falar inglês e fomos comer um frango frito e eu tomei uma cerveja: Serengeti beer e ele um refrigerante.

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Primeira Vista do Kilimanjaro de Moshi

No dia seguinte combinei de encontrar com Balaph novamente e vi pela primeira vez o gigante africano, precisava achar uma agencia para subir o Kilimanjaro. Não tinha reservado nada antes. E ele me ajudou muito, eu dei minha camisa oficial do Palmeiras para ele, e o ajudei com uns dólares e jantamos também algumas vezes.

Quando iniciei minhas pesquisas para escalar a montanha, me deparei com um problema: o preço.  O valor cobrado pela escalada em grupo, era muito alto e para minha surpresa, a maioria das agencias que organizavam a escalada eram do Canadá, Austrália, EUA e Inglaterra. Os preços eram realmente caros, exorbitantes, apos fazer uns orçamentos e chorar preços, não consegui barganhar nada. Nem um dólar. Tomei a decisão de ir sem reservar nada. Programei-me para ficar uns dias extras, para achar um grupo e também para fazer os Safáris, nos outros parques nacionais perto do Kilimanjaro. Reservei meu hotel por três em Moshi e nada mais.

Minha decisão financeiramente foi acertada, consegui pagar quatro vezes menos, do que o orçamento mais barato que eu tinha conseguido na internet. E para minha sorte tinha um francês, Fred que também estava na mesma situação que a minha, sem agencia e com vontade de fazer a escalada. Formamos uma pequena equipe. As agencias ”gringas” tinham grupos enormes de 10 a 50 pessoas, adorei estar num grupo menor, queria sentir de verdade a montanha e meditar ativamente na minha subida. Os grupos grandes dispunham de super barracas e ate uma barraca toalete. Pelo preço que pagaram valia o conforto. A lógica das agencias é fácil: eles fazem a parte dos sites, propaganda e captação dos clientes e terceirizam os guias e os carregadores em Moshi ou Arusha, faz parte dos negócios.  Minha agencia que eu achei em Moshi, apos cotar outras era: ”Hatuna Matata” fez um serviço razoável, o transporte ate a montanha, a alimentação era bem básica, mas estava muito empolgado para me preocupar em comer melhor, o guia era uma montanha humana, devido sua força e robustez, ele mesmo super gripado levou nós levou ao cume. Os carregadores eram todos muitos legais e nos seis dias de caminhada criamos uma relação muito boa. Todos eles torciam pelos clubes da Primiere League. O problema com minha agencia veio depois…

Entre as varias rotas do Kilimanjaro eu escolhi a Machame route: que tem as vistas mais impressionantes da montanha.E percorre todos os habitat.

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No total são seis rotas oficiais, e as trilhas são: Marangu, Mechame, Lemosho, Shira, Rongai e Umbwe ,e tem tambem a Mweka, que é usada apenas para descidas, normalmente em emergências, pois é muito íngreme. Você pode escolher a maioria delas, o que muda são os dias de trekking, as vistas, o preço e o inicio da caminhada pela parte Norte, sul, leste ou Oeste do Kilimanjaro.

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Routes to Kilimanjaro

O inicio do trekking e bem desordenado, todos os grupos se encontram no portão principal do parque Nacional do Kilimanjaro. Nessa hora algumas agencias contratam, carregadores que por ventura estão em falta em alguma expedição. A procura pelo emprego temporário traz uma multidão de tanzanianos para o Portão.

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Gate Machame Route

Esacalada  do Kilimanjaro pela Machame Route:

1º dia: Machame Gate to Machame Camp.

Começamos a caminhada, o primeiro dia é relativamente fácil e agradável, estamos longe da montanha, e a vegetação é densa de floresta tropical, macacos de rabo branco pulam nas arvores acompanhando nossa caminhada. O aclive é leve e o ar puro. Percorremos 11 km nesse dia. Nosso destino Machume Hut, nosso primeiro acampamento. Chegamos ao fim da tarde, comemos frango com milho e fomos dormir cedo, pois no dia seguinte a caminhada iria começar cedinho

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Floresta do Kilimanjaro

2º Machame Camp to Shira Camp.

Acordei cedo, e constatei que o zíper da minha barraca não estava funcionando. Falei com o dono da agencia, por telefone para ele mandar outra barraca, pois se ela quebrasse poderia me impedir de subir o Kili, ele prometeu que mandaria outra barraca e eu poderia subir tranqüilo ate o Shira camp e e na parte de cima da montanha,  trocar de barraca. Era mentira ele não mandou a barraca, sem ter o que fazer continuei a caminhada.  O local do nosso segundo acampamento era bem fresco por causa das arvores e podia avistar o Kilimanjaro no horizonte, do Machame Hut, ele parece muito longe ainda. Apos o café da manha de cereais, algumas frutas e um sanduíche, deixamos as clareiras da floresta tropical e continuamos por um caminho ascendente, a floresta começou a ficar para trás e as pedras vulcânicas começaram a fazer parte da subida. O destino de hoje é chegar ao Shira camp, distante 5 km do Machame Hut. Fizemos o trajeto em 5 horas. A rota torna para o oeste permeando um rio. O Shira camp concentra muitos grupos que vão fazer a escalada e estava relativamente cheio. Meu guia, Abasi, nós relatou que não estava lotado como em outros anos. Jantamos massa com atum, tomamos suco de uva. Nessa noite tive uma vista inacreditável do acampamento com as barracas iluminadas e o Kili compondo a paisagem, repleto de estrelas por todos os lados.

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Shira Camp

3º Shira Camp to Lava Tower to Barranco Camp.

Do platô de Shira a rota segue a leste acima de um cume, passando a junção para o pico de Kibo. Enquanto continuamos, nossa direção muda para o Sudeste em direção à Torre da Lava, chamada de “Dente de Tubarão”. Pouco depois da torre, chegamos à segunda junção que nos leva até o Glaciar Arrow, a uma altitude de 4.876 metros. Nós continuamos a trilha e baixamos de altitude até  Barranco Camp, em uma altura de 3.962 metros. Aqui descansamos, desfrutamos do jantar e passamos a noite. Embora você termine o dia na mesma elevação que quando você começou, este dia é muito importante para a aclimatação e ajudará seu corpo se preparar para o cume. Distancia percorrida 10 km, tempo de caminhada nesse habitat semidesértico: 7 horas. Uma vegetação endêmica de alta atitude pode ser encontrada nesse caminho. Havia cactos gigantes. Paisagem única, me sentia em outro planeta o tempo todo.

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Cactus Gigantes Kilimanjaro

4º Barranco Camp to Karanga Camp
O quarto dia é um dos mais curtos, caminhamos por 5 km, num território  Alpino-desértico numa altitude media de 4 mil metros de altura. O karanga Camp era a missão do dia. Esse dia a paisagem tem muitas pedras vulcânicas e a vegetação começa a ficar escassa. Ótimo dia para aclimatização.  Fizemos esse dia em 5 horas de caminhada. E a melhor parte foi poder contemplar o por do sol que caia atrás do Monte Meru, que esta a 70 km de distancia e tem uma altitude de 4,565 metros. Muitas pessoas treinam no Meru antes de realizar a subida ao Kilimanjaro.

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Por do Sol Monte MERU

 5º Karanga Camp to Barafu Camp
Apos o café da manha,  nos deixamos karanga e atingimos a junção da trilha com as expedições que estavam fazendo a rota Mweka. Aumentou o numero de pessoas na trilha. Ao chegar a Barafu Hut tinhamos completamos o circuito sul que oferecia lindas vistas do cume de diferentes ângulos. Os dois picos de Mawenzi e Kibo estavam bem na frente de nosso acampamento, a vista era espetacular. E me atraia o tempo todo. Aqui dormimos literalmente sobre as pedras. Não havia mais vegetação a medida que avançávamos em altitude. Somente pedras vulcânicas. Caminhamos 4 km em 4 horas.  Estava muito desgastado esse dia por causa da altitude. Jantamos massa e frango e chocolates.

E apos a janta eu e o Fred, fomos a nossa barraca ler um pouco e tentar dormir.Tentar, pois numa altitude de 4.663 metros se torna bem mais complicado pegar no sono com o ar rarefeito. Somado a ansiedade de estar a horas do cume a equação final é que eu fico sem sono.  Deitado ao menos, descansava o corpo.  A proximidade da montanha mudou drasticamente a direção e a força dos ventos, rajadas fortes castigaram nossa barraca por duas horas. O zíper que havia quebrado no primeiro dia me preocupava. Eu e Fred a essa altura não dormíamos e sim cada um ficava de lado opostos da barraca para ela não levantar voo. O esforço foi em vão, a lona superior que cobria a barraca estourou, o zíper cedeu, nosso abrigo foi pelo ares, cortado ao meio, os ventos começaram a levantar a parte inferior da barraca, conseguimos rapidamente colocar todos nossa objetos na mochila e pular fora da abrigo. Os ventos foram cruéis sobre nossa frágil moradia. Passado o susto os ventos acalmaram. e nós refugiamos na barraca dos carregadores e do guia, aonde era para caber 4 pessoas, cabia 6 pessoas. O odor de 6 homens caminhando e sem banho por 5 dias não era exatamente um perfume, mas o pior nem era o cheiro de suor, e sim as posições que estávamos, teríamos que estar dormindo e descansando nesse momento, mas estávamos apertados e sentados em uma barraca, não achava nenhuma posição confortável.

O vento acalmava aos poucos la fora, e eu só pensava em sair daquela barraca e começar a caminhar. Por volta das meia noite e meia começamos e nos preparar para o ataque ao cume. Estava duplamente aliviado. Iriamos finalmente  mover-se nas neves do Kilimanjaro. Essa noite eu me recordo apenas de subir; subir e subir sem parar na borda da cratera, era noite de lua cheia e podíamos ao poucos penetrar naquele zigue zag sem fim, pelas encostas do vulcão.
Meu corpo sentiu o cansaço de não ter descansado propriamente. Meus pensamentos começaram a querer me derrubar, parei!!! Respirei fundo, comi chocolates e castanhas e me auto motivei. Poderia fracassar a escalada, mas tentaria o máximo que minhas células poderiam suportar. A  frase passo a passo se tornou um mantra na minha cabeça, e aos poucos fui retomando meu controle mental e físico. Apos 5 horas de subida interrupta, atingi o Stella Point  e me hidratei, consegui ver toda a neve do alto da montanha e o s primeiros raios de sol no horizonte.

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Nascer do Sol no Kilimanjaro

Minha energia pulou de 5 % para 95%. A parte mais desgastante da trilha tinha ficado para trás e na minha frente existia os glaciares e o cume em Uhuru Peak. O frio era congelante, menos 11 graus, mas cada passo que eu dava na morada dos Deuses africanos me completava como ser humano. Com certeza uma das sensações mais lindas que eu senti na minha Vida. Chegar ao cume era questão de tempo, não tinha mais medo do fracasso e somente queria viver cada minuto daquele sonho. Ao chegar no cume fiquei muito emocionado tinha sido muito difícil conquistar o topo da Africa, mas cada gota de suor valeu a pena. Ver o nascer do sol no ponto mais alto do gigantesco continente africano foi memorável. Pude avistar as longínquas planícies do Quênia, ver uma manada de Elefante do parque Ambroseli. Contemplei o glaciar Furtwängler , que diminui a cada ano. Mesmo com os dedos quase congelados para tirar fotos estava extasiado, nao queria ir embora. Estava realizado e agradecido, primeiro pela montanha, por me me deixar ver sua beleza por dentro e também por estar um dia lindo, com as poucas nuvens, um verdadeiro espetáculo da natureza.

 

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Cume da Africa, Agradecido

 A descida ate o Mweka Hut eu e o Fred fizemos literalmente correndo, demoramos 6 dias para subir e menos de 3 horas para descer. Estava acabado fisicamente, ao chegar comi o almoço que serviram e desabei por algumas horas.
No ultimo dia do ataque ao cume: subimos 5 km e descemos 12 km. O tempo de subida varia entre 7 a 8 horas e o de descida entre 4 a 6 horas. Começamos a caminhada em 4663 metros, chegamos ao cume de 5891 metros e dormimos a 3048 metros.
Uma aventura épica que ficará gravado na minha alma para sempre.
 
 
Como subir o Kilimanjaro??? Me pergunte como ou me mande um e-mail que eu posso te ajudar a subir o Kilimanjaro.