
As pesquisas sobre como enviar um carro de navio para outro continente começaram há bastante tempo, pois precisávamos saber a viabilidade de pôr esse plano em prática e quanto custaria a “brincadeira”. Desde que decidimos iniciar nosso roteiro pela Europa, começamos a procurar tudo que havia sobre esse tema na internet.
Enviar um carro dentro de um contêiner do Brasil para algum lugar do mundo não é uma tarefa fácil. Na teoria, o procedimento é simples, pois, na verdade, você aluga o espaço dentro do contêiner e envia o carro com uma permissão temporária de importação para este atracar em outros portos.
No Brasil eu tive muita dificuldade em achar uma empresa que me ajudasse a enviar o carro para a Europa. Fiz orçamentos com diversas empresas e pedi ajuda de alguns amigos que trabalham com importação e exportação e assim, seguiram-se muitas negativas e quase desistência da minha parte. Meu compadre Diego Miranda me recomendou o serviço da Moya, empresa de assessoria em comércio exterior (http://www.moyacomex.com.br/), pois ele já havia exportado algumas máquinas com essa empresa. A pessoa que nos atendeu se chama Mônica, sendo que nos apresentou as opções de envio mais em conta via Roterdam, na Holanda, e Antuérpia, na Bélgica. Acontece que a Mônica nunca havia enviado um carro usado do Brasil para a Europa. Aliado a isso estava também o fato de que recém havia ocorrido uma greve no Porto de Santos, que durou 1 mês; imagina se algo assim voltasse a acontecer na época do embarque; um atraso de tanto tempo poderia comprometer toda nossa programação, relacionada aos prazos, passagens de avião e roteiro.
Nosso plano B estava nos Pampas; não nos Gaúchos, mas em terras celestes, mais precisamente em Montevidéu, Uruguai. Tínhamos relatos de outros brasileiros que já haviam feito o transbordo pelo país e que tudo havia corrido super bem. O Uruguai tem sido nos últimos anos um dos países mais organizados e livre de crises políticas e instabilidades da América do Sul. A única questão era que quase 2 mil km nos separavam de São Paulo até lá, visto que fizemos uma mini-expedição por RJ e SP antes de embarcar para a Europa. Considerando a dificuldade de envio pelo Porto de Santos e as experiências positivas por Montevidéu, considero nossa decisão pelo último a mais sensata e acertada.
A empresa que nos atendeu foi a www.adinet.uy e o representante com quem tratamos é o Eduardo Kessler(ekessler@adinet.com.uy), que foi extremamente rápido nas respostas e sempre pronto a sanar todas as dúvidas. O procedimento foi bem mais simples do que esperávamos e nos surpreendemos com a eficiência e ausência de burocracia envolvida (síndrome de quem está acostumado a uma “papelada interminável” no nosso país). Na data agendada, chegamos em Montevidéu e nos dirigimos ao escritório da empresa, munidos da documentação necessária: documento do carro, carteira de motorista, passaporte e a carta verde. O Eduardo explicou que, toda vez que vai enviar um veículo, ele faz os orçamentos junto às empresas com as quais opera, já que os preços são flutuantes e mudam dependendo de cada situação. No nosso caso, a empresa que ofereceu o melhor negócio foi a Hapag Lloyd. Acompanhados do Eduardo, pagamos as taxas exigidas e nos dirigimos ao porto. Lá, dois funcionários aguardavam e logo dirigi a Pandora para dentro do contêiner; eles fizeram todas as amarras de segurança e não realizaram nenhum tipo de conferência ou inspeção no veículo. Você apenas assina um documento de que o tanque de combustível está praticamente vazio, o que também não foi checado.
O custo da operação nesse momento ficou em U$.1700,00 dólares (inclusive achei que estavam todas as taxas inclusas, mas não foi exatamente assim). Agora era torcer pro navio não afundar e a Pand Rover chegar sã e salva em Roterdam, 28 dias depois de sair do porto (embarcamos ela numa quarta-feira e o navio saiu no Sábado) – pois optamos por não fazer seguro da parte marítima. O legal também é que você pode rastrear o navio pelo site ao longo de todo o percurso.
Nesse meio tempo, meu amigo Diego me questionou se já havia pago o frete do destino, que eu acreditava já estar quitado. Ao entrar em contato com a Hapag lloyd (a partir do embarque do navio, você contacta diretamente a empresa responsável, não mais o despachante), qual foi minha surpresa em ouvir que ainda estava em aberto o valor do frete. Nesse ponto não sei se foi engano do meu despachante ou se realmente o valor podia ser quitado no destino (sabemos de pessoas que fizeram isso e não houve problema). Todavia, resolvi proceder conforme a HL me instruiu e efetuei então o pagamento do frete e outras taxas referentes ao porto de Roterdam, mais U$ 1,182, 00. .
Nós tínhamos o plano de tentar retirar o carro em Roterdam por conta própria, sem contratar novo despachante. Chegamos em terras holandesas 4 dias antes do desembarque, a fim de organizar tudo. Como por email ninguém foi capaz de nos confirmar essa informação (se era mesmo possível retirar o veículo sem o intermédio de terceiros), fomos pessoalmente ao escritório da Hapag lloyd, onde foram bem enfáticos ao nos dizer que era estritamente necessária a retirada por um despachante local, que não era permitido agir por conta própria. Ali já sabíamos que nova conta em euros estava pela frente.
No Uruguai já havíamos solicitado o contato de um despachante em Roterdam, pois preferimos trabalhar também com essa hipótese. A empresa SCL fez então todo o processo burocrático; nós tivemos que ir em 2 lugares distintos em busca de estampas e depois era só aguardar a Pand Rover chegar no hangar da SCL. Nos informaram que fomos “escolhidos” pra passar em um escaner para inspeção pela Polícia Federal (ao que parece, todos os carros que vêm da Sulamérica são escolhidos…), sendo que o procedimento era realizado na data elegida por eles. Ficamos preocupados porque você tem um prazo curto sem custos pra deixar o veículo no depósito do porto; após 3 dias se não me engano eles cobram uma taxa diária. Todavia, o prazo levou o tempo esperado: o navio atracou numa quinta-feira e claro que no final de semana eles não operam, sendo que na segunda-feira foi realizada a tal inspeção e no dia seguinte já podíamos resgatar a Land Rover, depois de desembolsar mais € 900 euros.
Sendo assim, gastamos, em cotação da época, um total de R$ 12.930,00 reais, somando os custos de embarque no Uruguai, frete e taxas portuárias e mais o custo de retirada pelo despachante no porto de destino. É um valor vultoso, não se pode negar, mas você precisa fazer as contas e pôr na balança o quanto vai economizar depois, levando em consideração os meses de viagem que pretende fazer. No nosso caso, como a Land Rover será nossa casa pelos próximos 3 anos no mínimo, esse valor compensa.
Os documentos exigidos em cada continente para rodar com o veículo podem variar. Na Europa, são exigidos o documento do carro (no seu nome é claro), licença para dirigir (não precisa ser internacional, mas eu fiz por descargo de consciência), passaporte, lista de todos os objetos no interior do carro com seus respectivos valores e, por fim, a Carta Verde, um seguro contra terceiros obrigatório com duração de 1 ano, no qual gastamos um total de U$ 1320 dólares (feito online com a empresa alemã Tour Insurance). Apenas por curiosidade: orçamos quanto seria um seguro completo, não só contra terceiros, e chegamos a um valor absurdo de € 5000 euros!