Cairo

Cairo. A maior cidade do Mundo Árabe.

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Vista da cidade de Cairo da Citadela

A chegada ao Egito foi um pouco conturbada. Um dia antes de pagarmos o avião, a Rafa teve uma infecção alimentar bem forte; possivelmente de um Kibe cru que comemos em Beirute, capital do Líbano. Chegar debilitado em um lugar com 20 milhões de pessoas dividindo o mesmo espaço, é, no mínimo, impactante e o corpo já sente o stress por osmose. As informações na capital do Egito vem de todos os lados. A poluição visível e a fina camada de areia que perpetua no ar te engolem assim que se pisa fora do avião. O trânsito caótico e as buzinas ensurdecedoras e incessantes aguçam os teus sentidos de sobrevivência em meio a uma selva de carros decrépitos que avançam em alta velocidade, ignorando os semáforos, que apenas enfeitam as avenidas. Atravessar a rua é um ato de coragem. Um dos táxis que andamos colidiu em outro veículo. Os dois motoristas desceram, ouvimos alguns gritos em árabe e pronto, tudo resolvido e cada um seguiu seu caminho.

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Pedestres e os carros
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Padaria ao céu aberto nas ruas de Cairo.

A herança de Governos ditatoriais, que ignoram há séculos as necessidades de seu povo, é sentida nas ruas a todo instante: com a completa falta de estrutura, as fachadas dos prédios e casas aparentando um cenário de pós guerra e a absurda quantidade de lixo espalhada por todos os lados, inclusive nos corredores e escadarias dos prédios. O entorno do Complexo das Pirâmides de Gizé, maior atração turística do país, quiçá uma das maiores do mundo, é um cenário degradante de sujeira, deixada pelas pessoas e pelos centenas de animais que ali vivem. Ter que usar o banheiro químico de dentro do complexo faz você repensar o próximo gole de água. Soma-se isso ao assédio ininterrupto de pessoas querendo te vender coisas e serviços, algumas vezes te perseguindo pelas ruas; mas apenas um triste retrato do desespero de um povo por míseros trocados. Cairo é uma prova de resistência.

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Cairo a noite, próximo a Zamalek

Nos hospedamos num hotel no centro. Parecia que as 20 milhões de pessoas estavam todas ali. Escolhemos o local pela proximidade da estação de trem, já que na manhã seguinte pegaríamos o trem bem cedo para Luxor. Lição aprendida sobre jamais se hospedar no centro de Cairo, alteramos nossa reserva para a volta de Luxor e Assuã para outro bairro. Após algumas pesquisas, vimos que dois lugares interessantes são o Dokki e Zamalek, pois ainda são próximos dos principais lugares de interesse, mas mais afastados da mega concentração de gente. Nos deslocamos facilmente de Uber e táxi, só tomando o cuidado de sempre fechar o preço antes da corrida, que dificilmente vai sair mais de R$ 15,00.

Museu do Cairo 

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Faixada externa do museu Egípcio

Na nossa viagem de 14 dias, acabamos reservando apenas 2 para conhecer a capital, tempo que não foi suficiente. Só a visita ao Museu de Cairo toma algumas boas horas do seu dia. O acervo de esculturas, estátuas, sarcófagos, jóias, papiro e múmias do Antigo Egito é mesmo impressionante, contando com mais de 120 mil peças. A entrada custa 120 ou 240 libras (R$ 22 ou R$ 44 reais) com a sala de múmias, que optamos por não visitar para poder contratar um guia egiptólogo para acompanhar a visita. A história do Egito é muito rica e complexa, então foi super enriquecedor percorrer os corredores do museu e contextualizar os objetos com a história por trás de cada peça.

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A mulher mais importante do Egito, Rainha Hatshepsut (1479-1458 aC, não,  nao é a Cleópatra. 

O serviço do guia saiu 300 libras (R$ 54) por 2 horas, o que achamos bem justo. Além do guia, ter ido no museu após quase 10 dias visitando os templos em Luxor e Assuã, fizeram tudo ter mais significado. Nessa altura da viagem, tínhamos fresco na cabeça a história fascinante dos Faraós, deuses e seus legados. Então, se puder, reserve a visita ao museu pro final da viagem.

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Cachorros que protegiam os túmulos.

O ideal é chegar na hora que o museu abre, pra tentar evitar os turistas e os enormes e barulhentos grupos de chineses. Logo nos primeiros passos você percebe que a organização não é o forte desse museu; muitos objetos milenares são dispostos meio amontoados, às vezes sem identificação. A exposição segue uma ordem cronológica conforme os ponteiros do relógio, avançando por todas as épocas da história egípcia.

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Museu do Cairo, primeiro andar.

O crème de lá crème se encontra no segundo andar, onde você gruda os olhos perplexos nos vidros que guardam todos os tesouros encontrados há quase 100 anos na tumba do Faraó Tutankhamon. Provavelmente você não encontrará mais essas relíquias lá quando da sua próxima visita, pois elas mudarão de casa este ano para compor o acervo do ainda não inaugurado Grand Egyptian Museum, em Gizé. Por hora, você ainda pode se maravilhar com os sarcófagos em ouro (o faraó foi sepultado em 3 caixões um dentro do outro, sendo o último de ouro maciço, pesando 110 kilos), com o trono ricamente detalhado, as camas douradas, a carruagem e com o mais famoso, emblemático é enigmático artefato exposto no museu: a máscara mortuária de Tutankhamon, com 11 kilos de puro ouro e decorada com pedras preciosas.

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A máscara mortuária de Tutankhamon, com 11 kilos de puro ouro

Não é permitido tirar fotos e a máscara foi recentemente restaurada após um incidente em que os funcionários do museu resolveram colar a barba com durepoxi! O que se passa na cabeça de um cidadão em usar durepoxi numa das maiores relíquias do Egito Antigo com quase 4 mil anos de idade??? (Os funcionários responderam inclusive a um processo criminal). O faraó Tutankhamon morreu muito jovem, com 18 anos de idade, e não deixou nenhum legado; é hoje um dos Faraós mais famosos no mundo justamente pelos tesouros encontrados na sua tumba, descoberta intacta em 1922 pela equipe de Howard Carter, no Vale dos Reis, em Luxor. É lá que ainda permanece a múmia do faraó.

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Cadeira de ouro maciço do Faraó Tutankhamon.

Citadela de Saladino

Na mesma tarde fomos visitar a Citadela de Saladino, construída pelo sultão e líder muçulmano de mesmo nome em 1182. Diante das ameaças de invasões pelos exércitos cruzados europeus, a Citadela foi uma importante peça na defesa contra os inimigos, tendo servido como sede do Governo por 700 anos.

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Mesquita de Muhammad Ali

No coração da Citadela está a impressionante Mesquita de Muhammad Ali, onde o mármore branco adquiriu a cor bege do deserto. Ali foi de um simples soldado albanês a comandante das tropas contra Napoleão, e a construção da Mesquita serviu para consolidar sua posição no poder. Diz-se que foi uma tentativa de imitar a imponente Hagia Sofia em Istambul.

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Mesquita de Muhammad Ali

Citadela está bastante deteriorada, mas vale a visita. De seus pátios se consegue observar o Cairo Islâmico e as dezenas de Mesquitas espalhadas pela cidade. Chama a atenção a cidade de Cairo num vasto horizonte toda em uma cor só, através das fachadas marrons e danificadas das construções, em sua maioria.

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Mesquita de Muhammad Ali

Com apenas 1 dia inteiro em Cairo, ficou faltando visitar os bairros muçulmano, Copta (dos cristãos ortodoxos, onde está a Basílica de São Jorge e a Igreja Suspensa), a Torre de Cairo, com 187 metros e uma visão 360 da cidade e o Bazar Khan al Khalili, famoso mercado a céu aberto (confesso que estava passando a visita a outro mercado gigantesco, após ter recém visitado o Grand Bazar em Istambul).